segunda-feira, 30 de março de 2009

Hoje


Hoje teu sorriso trêmulo
Enlaçado à criança devorada
Na fome antepassada do teu sangue

Jogou-se em meus braços
E morri contigo
Infantilmente casta de amor

Agora tuas mãos espelham meus lábios
Teus pais se recolheram ao leito
Minha boca se espalha em teus dedos

Imensa, mas sem dentes
Para que a eternidade não se apavore
Por hoje termos nascido juntos

segunda-feira, 16 de março de 2009

O jogo dos contrários


As coisas se quebram rapidamente
Como um pássaro canta na janela
Une todo o tempo e todo o céu
Dentro e fora do corpo. E vai.

Só as janelas ficam
Emolduram o vazio do mundo
A desnudez daqueles que andam

Sem pés, sem roupas há tanto
Canto à espreita da noite
Como um bicho no cio esquece a caça
Ao ferir-se de paz na hora do gozo

Danço, salto, deixo as janelas para trás
Os olhos escorrem nos cacos da vidraça
O fundo, o mar, a fragilidade do porto

As coisas se fundem rapidamente
Como mariposas na violência da luz

A ausência do pássaro também tem suas asas