sábado, 13 de fevereiro de 2010

Baseado em fatos reais

(para dona Maria Luiza, a quem eu gostaria de dar muito mais)

Mais uma voz, mais um grito...
É pus o que está escrito
Hoje não sei cantar

O sonho de Maria Luiza
Tinha um cheiro Azul
Com A maiúsculo
de Alcides...

Minhas mãos, coitadas
Uma guerra inflamada
Latejando lixo
Rastejando entre cacos de vidro
Transparentes e mudos
Como esperanças assassinadas
(essas coisas que cortam para sempre)

Sete dias
A mordida animal
O Carnaval
As máscaras
O vento nos cabelos
De uma dor sem nome...

Dor-Venezuela
De gritos sem pontes
Dor-Recife
Purulentos mangues
Dor-Haiti
Da primeira abolição
Da vergonha de Napoleão
De escombros em extinção
Apagando a história
Dor-Cuba
De ditadura em ditadura...
E não se consegue respirar

Estou indo, indo
Aqui, aqui, aqui...
Há um peito batendo
Saindo de mim
Um parto sem fim
E seis bilhões de corpos submersos
(inclusive o meu, essa pedra lascada)

O verão passa, uma vida se esvai
Outra vida, mais outra
Entre o fundo e a superfície
Dona Maria Luiza
Vivendo no mundo a ferida
Do seu nome-palavra

Mais uma voz, mais um grito
Mais uma crise de asma
que não passa...


( para quem não conhece a história de dona Maria Luiza: www.pebodycount.com.br/post/postUnico.php?post=1143 )