terça-feira, 2 de setembro de 2014

carta cigana a um andarilho


como o mar chama
e deixa a voz mais divina
que o mundo já pôde tocar
toma, leva as máscaras e as raivas

leve-as despidas ao vento
para um passeio que flana
deixe que falem de dentro
o teu peito aguenta

o nosso peito de rochas esculpidas
em águas aguenta qualquer coisa
até que se morre um dia e pronto, está feito!

por deus, leva as tuas máscaras e as tuas raivas contigo

Andarilho, te falo de homem para homem,
de poeta para poeta...

também careço de paz e de estradas
como a mulher em ti

quando o vento norte do Saara me encontrou
eu também estava só, entre nadas e abismos

vai e deixa as tuas máscaras e as tuas raivas diluídas
na paisagem das ondas de calor que descansam ao sol
mais um tanto de fé e está lá, um oásis

quem sabe num domingo qualquer a gente se encontra por aí
e caminharemos juntos, lado a lado, ausentes das guerras...

por enquanto, é um sussurro
para compartilhar a Paz
há que se ter coragem
muito mais coragem