terça-feira, 17 de novembro de 2015

canto ao guerreiro em meu cheiro de cravo

até fomos amigos
filhos e encantos

crianças desprovidas de vestes
desvestidas de máscaras
amantes sem amanhã

até caminhamos de mãos dadas
nos olhamos por dentro
expulsamos escuros refazendo mapas

até retecemos a luz
entre os corpos suados
sem vontade de ir

guerreiros em paz
a salvar um mundo

na memória das mãos
o amor é tão nosso
que nem carece de nome

sagrado em ter nascido
sem querência nem fome
de sua própria geografia

sábado, 7 de novembro de 2015

sob o canto das baleias

(com uma gratidão infinita aos milagres do tempo e à mágica desses acasos-encontros tão inevitáveis quanto a vida)

ando distraída na morte
despreparada no mundo
sorrindo, em risco constante
o amor, ele...
às vezes passa com um movimento
de cabeça e olhos como se usasse da fé
às vezes lambe com a língua de todos os animais
às vezes simplesmente se devolve em dentes
às vezes lodo
às vezes campo
às vezes fogo
às vezes nada
às vezes corpo
às vezes medo
às vezes limbo
às vezes caldo
às vezes pão
às vezes tonto
às vezes tanto
e sempre mais
somos só um intervalo
entre o não ser e o além
um mistério, um milagre
só exijo amar
caminhar distraída
na morte e na vida
nua e selvagem
como a serpente que me guia
abrindo na terra outros leitos
para as águas que virão
das profundezas azuis
desse infinito antigo

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

de águas e de ar

fui pega de surpresa aos 40
cheia de infâncias
e olhando o mar...
inauguração sem fim
de tanto espelhar o céu