quarta-feira, 31 de agosto de 2016

sim, há um sorriso em meus lábios

na margem das oferendas
alguma coisa rosna e atravessa

de tanto não saber
rezei ao bicho
cantando à flor do milagre

entre os meus sonhos
já não há pesadelos

a beleza e o assombro rosnam
na mesma língua

é suficiente estar aqui

e já nem sei se ajoelho
ou grito

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

bordadeira de instantes

(entre o uivo, a palavra e o desconhecimento das coisas)

foto-dor tirada por mim na missa do vaqueiro, um fragmento
do efeito das rédeas entre rezas e perdões...

creio que há algo escrito em meus ossos
povoando poros devassados ao mundo

viver dói, isso é inegável
sendo junto esse grande milagre

por enquanto, que eu saiba honrar todos os corpos
os meus, os que me tocam, os que atravessam
os que me dançam... ereção, louvação, contradição

na minha fala, no meu riso, no meu grito
no silêncio, nos meus passos, na oração...
que eu saiba honrar todos os corpos na passagem

e que eu saiba matar e morrer
com a honra de um bicho

e o brilho nos olhos
de um ser selvagem

sábado, 6 de agosto de 2016

essas velhas coisas belas

de tristeza e de calma
a esculpir o tempo
faz muito não encontro
entre os ossos da alma
aquele homem faminto
que ainda ontem
assombrava os meus instintos
os pés sobre suores e abismos
como uma ode ao que perdi

e se mil sóis acendem no ventre
o que se mente a gerar fé
de escuridões se arde
e se acredita na lida
pele, carne, tudo isso que se come
chamando ventos e nadas
como quem canta
porque morrem as flores
mas antes, elas vivem