quinta-feira, 7 de abril de 2016

Dia de sombras

Amanheci má, desejando o bem a qualquer réstia, qualquer pó, qualquer coisa que se mova longe de mim... Indefesa e forte como a morte em todos nós... Cansada de tantos eus e meias palavras fantasiadas acordei mordendo os gatos da casa, rosnando mágicas como uma loba sem alcateia. A boca está cheia de pelos agora, o que é um bom alimento ao silêncio que precede o nada... E hoje é dia de não quero... Hécate, Medeia, Lilith, tudo pulsa fêmeo... Por Deus, não me peçam amor, não hoje, não aos meus cavalos soltos, cascos selvagens, correndo em alto mar... Asa de barata, veneno de cobra, uma pitada de currry e pimenta à vontade... Areia movediça, flores carnívoras e ervas daninhas... Plantar a 53ª árvore dessa vida, amassar o esterco com as mãos nuas, a bosta toda se espalhando entre os dedos, enquanto os pés misturam a terra às cinzas quentes da fogueira há milhares de anos... Só a Natureza pode entrar, a qualquer voz humana: Mantenha distância!

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