domingo, 2 de outubro de 2016

quando a lua escura nasce sangrando em amarelo

segundo dia de lua nova em outubro

I

às cinco da tarde
os trincos enferrujaram
as trancas perderam os dentes

o vento sentiu em seu rumo
alguém se desfechando e sorriu
passando, como sempre

II

um menear de cabeça
un cante más jondo
um rodopiar delirante

tudo no mundo envelhece
anoitece, dança, tropeça, cai...
os trincos e as trancas também

a vida de todos os seres
transitórios que somos
não passa de um milagre

III

às cinco da tarde
caiu um milagre
em meu colo

as unhas e os cabelos
se parecem com os meus

sem espelhos nem vestes
abro os braços imensos
na soleira da passagem

e olhando o sol de frente
não peço nada

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