sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Confissões


Ainda não escrevi nenhum livro
Meus escritos estão em papéis livres
Sem capas, sem colas, sem páginas numeradas

Plantar até que plantei com zelo
Com mãos de água libertei sementes
Emprenhadas pela mesma terra fértil que me pariu

(Mas até hoje não sei das árvores, das raízes
Se frutos brotaram, se cresceram
Falhas de quem cultiva na infância
Sem conhecer portos, paradeiros)

Filhos também não tive, não nesse mundo
Abortei um anjo muito jovem
E todavía é ele quem canta para que venha o sono
Todas as noites enquanto voamos

Das violações marcadas a ferro no corpo
Em feridas expostas no fogo da alma
Troquei as memórias por belezas
Não esquecimentos. Assim cicatrizo

Desacorrentei da dor as lembranças
E das vísceras implodi risos
Espargidos em olhos alheios

Com um ano abri mão da minha mãe
Que daí então me cuidou livremente
Que dádiva aprender a andar tão cedo!

Muito não quis
Foi para soltar que me fiz
A segurar não fui ensinada

Lacerações cosidas com a minha linha da vida

Liberdades que distribuí por não carregar mais

Que merda! Então não sou nada?

Me falta a sabedoria do ter
Me falta a humildade do colo

Mas amei até morrer, como amei, como amo
Como tenho tanto ainda para dar ao mundo
No afago das minhas mãos escancaradas

Acariciando o perdão ao meu nada
Me faço o regaço do abrigo que me neguei
Para não amputar os abraços que recebi

4 comentários:

Anônimo disse...

lindo!

P. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
P. disse...

Ha quanto tempo não te via... Não por culpa tua. Por culpa minha mesmo. Tava com saudade!
Beijo no coração
Teamo!

Carol disse...

lindo!!! Que todos se façam sempre pra se soltar.
viva!
boletes