quarta-feira, 21 de março de 2012

As mãos

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No leito de suas sedes mais delicadas
Ela viu a cor do invisível um dia
Tinha outros nomes e uma imagem
Como o vento se chama tantos e se vê

Os lírios, os seios, os dentes, as asas...
Desejou por fé no gozo que sentia
As vozes em volta diluídas na paisagem
O corpo de Dalí, no ventre de Monet

Contradições! Olho e dou risadas
Da saia que guardei e ainda uso
Daquele tempo de pedras e facas

Da gaze branca, avermelhada
Roçando nela como o pulso
De um coração que falta

Lambi suas lágrimas
Antes do café de ontem
Porque gosto do sangue

Não, minto...
Fiz pela paz da orgia
Em suas mãos ausentes

sábado, 10 de março de 2012

orientação

(para o amor e para o velho Guima, humildemente)

"Esperar é um à-toa muito ativo.”
(João Guimarães Rosa)


onde estariam meus pés
se caminhassem agora
quando te espero entrar

com a ruga na testa
de quem luta faz tempo
n´alma tua e ausente?

marcas de uns enganos
alguns encontros e outros
passos que o dia sopra...

obras do viver
enquanto se vive
com os pés no rio

eternamente

rio que dança e mostra os dentes
por tão doce saber-se a-mar-go
de corpo inteiro

sexta-feira, 9 de março de 2012

Carta a Sabra, Shatila e Esperantina

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Porque meu pai não morreu na guerra
Fui feliz desde menina

Se com os idos caísse ferido
De um lado que não acredito

Ou sonhasse distinto
Só por ter partido...

Ou quem sabe o barro
Guardião das minhas unhas

Escorrendo pelos braços
-----------Como agora?


Protegida ao acaso
Não colhi seus ossos

A sangrar meus olhos
Com as tuas lágrimas

Entre ir ou ficar
São sempre tantas vidas

Meu quinhão para sorrir
E também para chorar

Porque meu pai não morreu na guerra
E fui feliz desde nascida