quarta-feira, 22 de março de 2017

oferenda à paz que afaga a agonia


nos foi dado gritar
e arranhar com os dentes

nos foi dado um corpo
com tantas inquietações

nos foi dada a existência
com tudo o que pensamos verde:
folha, musgo, mar, gafanhoto

inventamos a palavra
suas escravidões, perfurações
transmutações, suas lambidas

nos foram dadas unhas
para seguirmos cavando

nos foi dado tanto
nos foi dado muito...

enquanto arde a matança
é violenta a esperança

nos foi dado gritar
e arranhar com os dentes

nos foi dado um corpo
com tantas inquietações

nos foi dada a existência
com tudo o que pensamos verde:
folha, musgo, mar, gafanhoto

dói, todo dia, às vezes...
e agradeço o milagre
chorando por nós

a lâmina em riste
para próxima dança

cabeça erguida
pés firmes no chão

olhando de frente
para tudo que sangra

te ofereço meu fígado
com minhas próprias mãos

pega querido, come...
é de coração

mas caso a guerra insista
posso dormir tranquila
entre os assassinos

caso seja uma escolha
posso dormir também
entre os seres que matam

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