terça-feira, 8 de abril de 2008

Desencontro ao redor dos tempos


Joelhos rezados sobre o chão
Terra batida, vermelho, barro
Sol escaldante secando a escuridão
Seus pés de estrada em passos surdos

A respiração se ia inimiga do vento
O peito úmido, emudecido e só
Sedento de amor meu coração tremia
Como se todo aquele sangue fosse seu


E era, ao lado, a minha fotografia

Doce e altaneira a velha senhora
Cavalgando em nossa dor sorria
Na boca que ontem era boca ainda
Em frente seguia em seu corpo fecundo

E o meu homem ali, largado
Estatística em cascas de árvores mortas
Não, não haverá enterro nem foto nos jornais
O seu corpo foi vítima da decomposição do mundo

Um comentário:

Josias de Paula Jr. disse...

Sílvia, é pena que não nos conheçamos. Mas te digo uma coisa: não elogio teus poemas à toa! São muito bons. Este é tocante, pela força da imagem, pela sonoridade e pelo tom de (quase) confessional da levada. Bonito mesmo!