terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

E quando a noite se foi...

para Juan Gelman


Enquanto meus mortos se perdiam em terras
Entristecidas aos pés de tantas sombras
As pedras no pátio cantavam as flores brancas

A pele tão jovem nem sabia do suor e do silêncio
Guardados nos gritos da casa ao lado,
sempre tão perto

Um dia nas sobras do mesmo teto
Brotou a sinceridade do jasmim

Todos os segredos naqueles corpos
Exalando meus próprios sonhos
Na rouquidão dos nossos cheiros

Foi tudo o que vi das armas e dos nomes
Que escondi sob os versos nas retinas

Todas as vozes cravadas na mudez da menina
Repetindo rimas sem rosto, hermanas varizes
Enquanto lhe acendiam na carne a eternidade das cicatrizes

E quando a noite se foi, o jasmineiro também ainda estava lá

Um comentário:

WBLog disse...

Belo poema, reunindo num só corpo a poesia, a graça, a leveza e o aroma adocicado da poeta que o criou. WBL