sexta-feira, 5 de junho de 2009

A dançadeira

Para minha avó Alcina, que sem querer, me ensinou a ler

Deitada sobre cactos
As costas perfuradas
Lapidava estrelas

Era terra muito velha
Pisada pelos homens
Sagrada pelos mares

Deflorada por mil deuses

Mas do seu umbigo
Brotava um jardim
Todo santo dia

Espirais de cinco sóis
Escorriam em cada um
Dos fios dos cabelos

Sangrar era seu jeito
De encantar a morte
Em seu corpo verdadeiro

Da última vez que a vi
Estava completamente nua
Parindo poesias por todas as veias

4 comentários:

WBLog disse...

Da última vez que a vi, estava como sempre bela, espalhando beleza por todas as luas, para sempre inesquecível...

Anônimo disse...

Sonhei com ela esses dias, aliás, ela povoou e embelezou meus sonhos durante anos, como se me quisesse dizer, mostrar, me sangrar. Até que conseguiu, e... "da última vez que a vi" me acenou com mãos de luz.

Magna Santos disse...

Que coisa linda! Obrigada pela emoção que me proporcionou.
Esses avós e suas marcas na gente! Essas saudades longas de sentir, molhadas demais para falar...
Identifiquei-me muito com teu poema.
Beijo.
Magna

Josias de Paula Jr. disse...

Lindo! Lindíssimo poema!!