terça-feira, 18 de junho de 2013

Sobre a utopia do grito


Sou filha de 75
Ainda eram abertas as feridas
Nasci na cidade das flores
e no ventre que me fez
os jardins se estendiam por milhares de quilômetros
Mas já trazia na boca cicatrizes desconhecidas

Hoje me banhei de assombro
Amanheci utópica como nunca
As marcas de nascença no corpo nu
com nomes escritos em letras garrafais

Como você, sou mãe de um aborto
Como você, sou neta de um estupro
Como você, sou o sangue de uma voz
Ou seja, uma multidão
De carne, utopia e osso

Noite passada sonhei com uma multidão de minorias reunidas
Todas caminhando em meu corpo e nosso corpo era a alma do mundo

Amanheci gay e sou uma multidão
Amanheci mulher e sou uma multidão
Amanheci índia e sou uma multidão
Amanheci negra e sou uma multidão
Amanheci cigana e sou uma multidão
Amanheci como sempre fui...

Um velho silêncio impossível
Gritando como uma multidão


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