quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Sede

E costurando asas nos calcanhares
Sangrei tanta vida aos meus pés
Que vou me esquecendo de todo feio

E quando um dia cair de muito alto
Que alguém ouça o segredo em meu epitáfio:
“Aqui jaz um poço que verteu o mais fundo que pôde”

E que a minha lápide seja uma pedra ainda viva
Por eu ter a sorte de cair para sempre no mais longe do mar
Onde mora toda a água que não tive

E por enquanto, de tanto me alimentar de ventos
Que ao menos aprenda a chover debaixo da terra
Para matar a sede das flores

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Pérolas cicatrizadas


O nácar em minhas vísceras devora pedras
Talvez por isso exista o riso ainda em mim
Das feridas em cicatriz as ostras não geram pérolas?
Quando não, sobra o escarro para limpar o peito
Esse cheiro de barro cru? Vem da terra que me pariu
O sangue no caminho? Dói em mim, mas não é todo meu
Tenho cinco fígados e oito corações e dou de comer
Aos cães que sobraram depois do fim do mundo
Quer um pouco? Ou prefere o tesouro escondido?
Farei um colar de risos para enfeitar teus tornozelos

Assim ao caminhar verás o mar e não as ostras

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Soledad


Se não é saudade
A soledad
Nela está contida

Se não é soledad
O amor
Ele sempre a contém

Llena de saudade
Soledad
E amor
Sou contendo
Todas as coisas
Como un hilo de unión
entre ellas

Sou passional
Pasional
Apaixonada
Eternamente
Em todo agora
Lleno de amor
E solidão

E isso não se trata de linguagem
É a matemática da vida
Da minha vida
É exato e sempre