terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Vespertina felicidade


Mais do que o nascer e a aurora
É o cair da noite que me fascina

-----------Ainda depois do vermelho

Corpo livre entre o azul e o negro

Dançando sem medo sobre um mundo amarelo

Acho que é de suas quedas que nascem as estrelas
Da assassina do vermelho, serão elas as cicatrizes?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Olhar-aquarela


Vermelho-escarlate
Azul-safira
Amarelo-topázio

Sons do imaginário
Cores do invisível
Corpos do impossível

Misturadas pintam lama
E é preciso recomeçar
Reinventar a obra

O pintor já fez a sua parte

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Cinzas


Dentro de todo cinza
o azul já lambeu seu gozo

Há que se ter coragem
para chupar do cinza
o azul que se esconde

Com açúcar, com afeto


Uma vez no meio do caminho
Um fruto bêbado apodreceu aqui

Do ninho entre os galhos fez cair
sob os cabelos uma semente virgem

O mel dos filhos da árvore doída
Escorre em pedaços de hálito e esterco
Quando grito e quando mostro a língua
Num fértil mundo grávido de vertigem

A chuva lambia da terra o renascer
A semente foi regada sem querer
E as raízes da árvore nascida
Misturadas ao mapa deste favo

Mexendo bem o sangue aprendi
A embelezar o oposto ao acaso
A fazer doce de fruto quase podre

Não, não cozinho só para mim
Dou de comer a muitos homens
E nos olhos do outro sinto enfim
O cheiro bom do meu próprio gosto

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O homem, a luta e a eternidade

(por Murilo Mendes - um dos amores da minha vida)

"Adivinho nos planos da consciência
dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos
Mundo de planetas em fogo
Vertigem
Desequilíbrio de forças
Matéria em convulsão ardendo pra se definir.
Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades,
o mundo ainda é pequeno pra te encher.
Abala as colunas da realidade,
desperta os ritmos que estão dormindo.
À guerra! Olha os arcanjos se esfacelando!

Um dia a morte devolverá meu corpo,
minha cabeça devolverá meus pensamentos ruins,
meus olhos verão a luz da perfeição
e não haverá mais tempo."

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Refazenda

(para o meu primo Rico, um beijo de adeus)

Uma morena tropicana passou
Como todos, intervalo
Levou no ventre um tesouro

Pariu no amanhã de outros céus
Tempos que não temos
Ao solo caíram seis véus
E logo se descobriram seus ouros

O menino não cabia no mundo
Com tudo o que ele viu
Era uma vez e ele
Partiu para o desconhecido

Disse adeus antes da aurora
Brotou o seu corpo no espaço
Onde a antiga hora nada era

Só o escuro, aquele breu
Esperando a sua luz

Não peço lágrimas para regar seu jardim
Ele já nasceu florido, frutando mais

Não quero gritos para entoar o seu canto
Seu silêncio é repleto de paz
Nem dores para lembrar o seu verso

O avesso da chegada não é a partida
É o começo de uma outra vida