quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Passagens e paisagens

--------------------
Cheguei cedo demais

aos cumes suicidas

das chuvas de outono


Antes mesmo das folhas

que alcançam o solo

só depois da morte


E ainda assim, dançam...


A luz, na véspera da noite,

não evoca à toa o adeus


Se despede sussurrando estrelas

Porque tudo no mundo merece

os minutos de silêncio

que precedem a ressurreição

domingo, 31 de outubro de 2010

Cinzas de um corpo herege

---------------------------------
Quantos milagres suportamos
Entre o riso e a fraqueza
De esquecer o pôr-do-sol
Nos vestígios mais belos
Desse corpo que passa?

O avesso despido em meio aos umbuzeiros
Ainda virgens das cicatrizes de ontem...

Nudez entre espinhos anunciando rosas

A memória se banha na delicadeza da morte
E oferece o ocaso a todo e qualquer deus
Que aceite recebê-lo em silêncio

Também não creio em milagres
Pero que los hay, los hay

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Pacto de sangue

------------------------
Há uma sobra de tempo entre os meus seios
A pele perfeita, intumescida ao avanço das águas
O peso das tuas mãos
-------------------------- (serão minhas?)

Dentro ou fora dá no mesmo gritam os poros

As gengivas roçam o ventre
Ao espasmo do fogo
E mesmo assim, a boca aberta
As pernas lavadas de sangue...

Há um acordo entre o que dôo à terra
E a lua minguante:
a morte e a vida

são atos de fecundação

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Libertações metafísicas

-----------------------
Rosas castigadas
Sem dentes
Dormindo nuas
Como se as cores
Fossem livres da luz

Rosas mofadas
Caminho de morte
Ferindo, feridas
Como se a beleza
Fosse livre da vida

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Lembranças da estrada

--------------------------
Aprendeu a fazer arco-íris aos quatro anos
Um pouco de água, doses de solidão, infância
E a luz do sol, de preferência de manhã cedo

Hoje dói a escassez dos banhos no jardim
E ela chora em silêncio até enquanto canta
Era ainda muito criança no dia mais feliz da sua vida

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Um aceno aos amantes da literatura

-------------------------
Era uma vez um menino.
Brilho nos olhos ele tinha, transbordamentos de infância, mesmo cercado de cinzas.
Um dia ele ouviu o professor contando uma história, permeada de rimas, e mudou o rumo da prosa.
Era uma vez um menino e um sonho.
O professor, abraçando na criança aquele gosto novo, deu de presente um livro, e mudou o rumo da prosa.
Era uma vez um menino, um livro e muitos sonhos coloridos.
Numa manhã estrelada, um homem que acredita alugou uma casa ali, bem no bairro do menino, recolheu livros bem legais, pediu doações de estantes e cadeiras e inaugurou uma biblioteca, e mudou o rumo da prosa.
Era uma vez um menino cercado de livros e um universo inteiro se abrindo.
E o menino hoje lê histórias para todas as crianças do antigo Alto Sem Futuro, que até mudou de nome, agora é Alto da Esperança, e mudou o rumo da prosa.
Era uma vez um menino cercado de crianças, uma biblioteca e muitos sonhos-realidades nascendo todo dia.


Vai um pedido aos poucos leitores que se aventuram por aqui... A Rede de Bibliotecas Comunitárias da Região Metropolitana do Recife precisa de ajuda. Equipamentos, trabalho voluntário e doações em dinheiro, qualquer valor, são urgentes. Para depositar: Caixa Econômica Federal / Conta corrente número: 544-5 / Agência: 2193 / OP: 003.
Quem quiser conhecer melhor o trabalho feito pelas bibliotecas, que vêm através de várias ações fortalecendo a prática da leitura e democratização do acesso ao livro em suas diversas modalidades: informativa, formativa e recreativa, como um direito humano, fundamental para o desenvolvimento pessoal, social e comunitário, é só acessar o endereço http://rededebibliotecascomunitarias.wordpress.com. Mais informações pelos telefones 3244-3325 e 8850-5507.

domingo, 1 de agosto de 2010

Tentativa de arco-íris em agosto

--------------------
No ventre da escadaria
Dois guarda-chuvas
Como pássaros cansados
Simplesmente esperam
O céu e suas escamas
Sem carne

No caminho
Vermelho como o ar
Olhos infantes
Perfuram o vento

E a fome...
Caça balões coloridos
Sorrisos mornos,
Azuis, infames, despidos,
Inteiros, partidos
De bicho, in-di-gente

Os peixes magros
As bocas desertas
Ensebadas de nuvens
Na gratuidade do parque

Tudo parece esquecer
Que o domingo morre
E tudo é fértil
E brota
E só porque se move
Enraíza

Em algum lugar
Uma árvore é parida
Enquanto chove
E a felicidade existe

domingo, 25 de julho de 2010

Cheiro de silêncio entre os dedos

------------------
Procurava por ti
Trançando sonhos
Em gavetas abertas


Esquecendo as mãos
Ainda em prece
Enquanto andava

Nas paredes da casa
Atravessando países
Que já não dormem

Será que amanhece?

E se amanhecer,
quantas estrelas
serão felizes?

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Silêncios abraçando gritos em meu país de muitas cores

-----------------------------
Talvez tenha aprendido com Mira, talvez antes, em outra esquina, já inspirando um sentimento sem nome, mas o fato é que hoje algo me invade quase o corpo inteiro, uma beira de verdade, se é que existe mesmo uma assim no singular: Às vezes, 0 x 0 é um grande resultado. Quando não se ganha nem se perde e ainda assim se troca, transbordam encontros...
-------------------------------
Onde assistirei ao jogo? O amado foi forrozar em Bezerros. Os amigos e a família estão numa euforia só nessa mistura de santo, futebol e feriadão e eu, bom, não ando com essa animação toda. Palmares, União dos Palmares, Barreiros, o juiz marcou impedimento, não dá para chutar a gol com tanta lama na canela... Mas Lula liberou milhões, as ajudas estão vindo de todos os lados e também não perdi nada com as chuvas além das lágrimas derramadas que não valem um tostão, apesar da fertilidade lavando o mundo. É ajudar e seguir. Não é justo não sorrir, não eu, que nesse caso, como disse Hannah Arendt citando Aristóteles, estou entre aqueles que, “não estando sujeitos à necessidade, podem devotar-se ao kalon, ao que é belo”.
--------------------------------------
Brasil e Portugal na briga pela bola em terras de África! Também não vou ficar em casa entristecendo a lida. Brasil, África e Portugal, se redescobrindo... essa mistura-ventre de múltiplas e férteis sementes, lindas, já deu à luz muita coisa imensa. Apesar dos pensamentos de morte que guiam a história, o futuro sempre vem com suas metáforas preenchidas de desejos do passado.
-------------------------------------
Vou pra rua! Quero o abraço do povo. Assistirei ao jogo com a multidão mestiça que nos habita. Quero o eco da fé dividida me acariciando a alma. Pego Galeano pela mão: “Os espelhos estão cheios de gente. Os invisíveis nos vêem. Os esquecidos se lembram de nós. Quando nos vemos, os vemos. Quando nos vamos, se vão?”.
---------------------------------------
Camisa amarela e chinelos com a bandeirinha do Brasil nos pés (as mesmas sandálias gastas que aprenderam tanto junto com meus passos na sorte de escolher caminhos desconhecidos no barro do Oriente há um ano). Andar em dia de jogo do Brasil é uma dádiva, as pessoas são tomadas por uma educação patriótica de dar inveja a qualquer europeu. Um moço na bicicleta sorri e balança a cabeça num respeitoso cumprimento, uma senhora passa ao meu lado e dá um bom dia lotado de bons desejos, ninguém de cara feia, nenhuma pessoa, todo mundo se olha, se vê, se ri.
-----------------------------------
Rua da Aurora, Conde da Boa Vista, Martins Júnior, Rua do Hospício... Conheço Dora Brasileira, Mira Brasileira, Amaro Brasileiro, não há outro sobrenome possível nessa família que se reconhece na imensidão, quando um país acorda inteirinho diante do mundo, lutando junto, com suas “vuvuzinhas” estridentes em verde e amarelo agitando os passos de pernas caminhantes em direções distintas, mas sob uma mesma camisa.
--------------------------------------
Vendedores de bugigangas nem ligam para os passantes da Ponte Velha, conversam de amor alheios ao jogo, mas ainda assim vestidos com a torcida. Um velho cansado e de barba branca dorme sozinho, fedido, sujo, na praça vazia, mas seu short cor de Brasil anuncia uma esperança mesmo de olhos fechados. Na calçada em frente, entre peixes e aquários que provavelmente não serão vendidos nos próximos 90 minutos, uma TV fala da possível vitória, instalada numa parada de ônibus onde se encontram aqueles que antes estavam sós.
-----------------------------------------------
A cidade vai se esvaziando, mas em cada canto onde há uma televisão ligada ou um radinho que seja, se aglomera uma pequena concentração de pequenos silêncios ansiando um grito único. Um casal de namorados ao longe torce do seu jeito, ela vestindo verde enquanto ele lhe acaricia os cabelos. Para o enamorado, o jogo mais importante de hoje é outro.
---------------------------------------------
Na Casa da Cultura, grades que ferem tantas lembranças torturadas, policiais se organizam e carregam os bancos onde dividirão com vendedores, recifenses e turistas as emoções de um Brasil e Portugal já vitorioso a essa altura, pelo menos aos meus olhos sedentos de milagres... Vejo, os milagres e as almas sorrindo.
-------------------------------------------
Ao redor de Solano Trindade uma multidão se reunia em frente a um desses televisores de muitas polegadas no Pátio de São Pedro. O poeta olhando a paisagem, de costas para o jogo, mas inteiro ali: “Ouço um novo canto, que sai da boca de todas as raças, com infinidade de ritmos... Canto que faz dançar todos os corpos, de formas e coloridos diferentes...” A alguns passos do povo, Mira, os únicos olhos tristes que o Recife me deu nesse dia de festa. Esqueci o jogo. “Miriam, Miriam, hoje a rua está vazia!”, gritou uma loirinha que passava correndo para não perder mais tempo da partida. O Pátio, de São Pedro e de Solano, também alberga Miriam em sua vida a céu aberto, mas ela não conhece a poesia, penso. Repenso, será?
---------------------------------------
Um saco de pão velho ao lado e os olhos no chão, calados. Troquei o meu pedido de gol pelo apelo por uma alegria para Miriam, invoquei todos os pais brasileiros, orixás, santos, João, Pedro, Antônio, os homens e os anjos, por essa esmola ao meu dia que ia tão bem até ali. Procurei um lugar que tivesse uma comida gostosa, conheci Dora, mãos de mãe, avó e cozinheira, pedi uma galinha caprichada e decidi almoçar com Miriam. Quando voltei, ela sorriu, disse que eu podia chamá-la de Mira e me falou com alegria: “Que bom que hoje não está chovendo!”. E continuou cutucando seu bicho de pé com uma agulha enfeitada de fitas coloridas, em silêncio.
-----------------------------------------
Contrariando a previsão do tempo do noticiário de ontem na TV, o dia está mesmo lindo. Pego Galeano pela mão, agora melada e alimentada graças à galinha com feijão que Mira dividiu comigo: “Os espelhos estão cheios de gente. Os invisíveis nos vêem. Os esquecidos se lembram de nós. Quando nos vemos, os vemos. Quando nos vamos, se vão?”...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Algun día...

------------------- Roberto Juarroz

Algún día encontraré una palabra
que penetre en tu vientre y lo fecunde,
que se pare en tu seno
como una mano abierta y cerrada al mismo tiempo.
Hallaré una palabra
que detenga tu cuerpo y lo dé vuelta,
que contenga tu cuerpo
y abra tus ojos como un dios sin nubes
y te use tu saliva
y te doble las piernas.
Tú tal vez no la escuches
o tal vez no la comprendas.
No será necesario.
Irá por tu interior como una rueda
recorriéndote al fin de punta a punta,
mujer mía y no mía
y no se detendrá ni cuando mueras.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Um canto

--------------------------
Vem tristeza
lambe o meu corpo inteiro
Não quero que me salves
nem a pele, nem o ventre

Nem o oco que te alimenta
Cão faminto insinuando o rabo
Me pedindo afagos
de olhos vermelhos

Loba amamentando gentes
Aos dissidentes do amor demais:

------------------------------ Covardes!

Quero as marcas dos teus dentes
Tua língua fluida de facas

Aguar o mundo com as veias
é o meu jeito de semear
a única decência
tatuada em meu riso vulgar
e esquelético

E de parir arco-íris
infantilmente nua
sob a insistência deste sol
que te sufoca
1.440 vezes por dia

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Coisas e verbos para dar

----------------------------------------
Hoje plantarei rosas entre os dentes
Somente para dar-te um riso-cor

Hoje plantarei rosas entre os seios
Cheios de fé e amor em tuas mãos

Hoje plantarei rosas entre as pernas
Morada eterna dos sonhos que dividimos

Hoje quase que só plantarei rosas
Amanhã sangrarei... quando
 estivermos vivos...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Variações sobre o mesmo tema

D. Amara / Foto: Silvia Góes
----------------------------------------
“Um estremecimento misterioso toma conta do não matemático quando ouve falar de entidade quadrimensional. Uma sensação em nada diferente da que despertaria a aparição de um fantasma. Entretanto, não existe afirmação mais banal do que aquela que diz que o mundo no qual vivemos é um contínuo espaço-tempo em quatro dimensões.”
(Einstein)


O adágio das escolhas
-------------------------------
Amanheceu na encruzilhada a moça
Seus nadas e passos
E o abraço do tempo

No rosto se via ainda pouco
Réstia de estrela desejando aurora
Onde atracaram veleiros e ventos

Decidiu foi voar a louca
Lambendo mais que o espaço
Para alimentar seu canto

Desvestida das horas
Entrelaçando brisas
Apenas dança
Esperando a noite

O trupé da bailarina
para Dona Amara

Tragos enganando pestes
Pés de pedras e deuses
Cento e sete incontáveis passos
E mil homens que lhe chuparam os peitos
Das distâncias nascidas plantou no mundo
A terra onde brotavam portas abertas

Sem água encanada
Sem espelhos
Apenas seu canto
Suas fontes

E o tempo

Costurado com esmero
Em sua saia girante

O silêncio sustenido
-----------------------------
A paciência...

Uma chuvinha fina
Acariciando a noite
Grávida da aurora

Faz nascer arco-íris
No umbigo e nas mãos
Enquanto espera

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Penetrações

----------------------------------------
A verdade mais perto, se diz em silêncio.
E no restante do tempo, ela já está livre?
É o sorriso, é a rosa, é a porra mais densa?
É a cólera, a náusea, a querência da morte?
Minha primeira trela foi conhecer o diabo
E descobri que ele, também mora em Deus.

terça-feira, 30 de março de 2010

Conto de despedida


Ontem ouvi o homem falar do mundo seu, nosso, esse todo desconhecidamente íntimo que às vezes conseguimos dividir em pedaços.
Retinas feridas, miopias acesas, projetando sonhos, e perdas.
Dizia mais ou menos uns gostos, uns cantos, umas ranhuras cavadas na existência de ver a estrada, os rostos, as mãos, as lutas também.
Suas unhas sujas de barro me davam o chão suportável aos pés rachados de tanto vôo (com acento sim, porque escolho não tirar o pássaro ali de cima, sempre vi um pássaro nascido aprendendo a voar nessa palavra misturada ao ovo).
Estava partindo o homem. E só. Como todos nós.
Um minuto aqui e de repente não mais. O adeus.
Fiquei nua em silêncio, a boca lavada com aquele barro velho das suas carícias esculpindo memórias em desejos que já se bastavam sozinhos. Lembranças de línguas e dedos e pernas e braços, belezas suas, únicas, abraços, cacos unidos na eternidade do bom enquanto foi. O vento.
Deixou suas roupas no banco da praça e saiu cantando, uma música que ecoa aqui no oco do peito sempre que toco seu nome, feito de noites e sóis e auroras e mortes e vidas demais.

Essa angústia que rodopia no esquecimento é amor também?
É pra doer ainda?
E esse espasmo danado de não saber se choro ou se ajoelho...

Meu Deus, por favor, ensina-me a viver!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Polinização


A moça sorria e fazia do vento nos cabelos
Um deslizamento de sonhos
(essas abundâncias de Deus)

Seu umbigo uma lua cheia no corpo
Se emprenhando de sol

Não lembro se estava em pé ou deitada
Molhada ou queimada do sal

Devorando um peixe morto
E de olhos abertos

Colhia o leite do aborto
Para alimentar outros fetos

Mais ou menos como uma borboleta
Só que respirando embaixo d´água

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Baseado em fatos reais

(para dona Maria Luiza, a quem eu gostaria de dar muito mais)

Mais uma voz, mais um grito...
É pus o que está escrito
Hoje não sei cantar

O sonho de Maria Luiza
Tinha um cheiro Azul
Com A maiúsculo
de Alcides...

Minhas mãos, coitadas
Uma guerra inflamada
Latejando lixo
Rastejando entre cacos de vidro
Transparentes e mudos
Como esperanças assassinadas
(essas coisas que cortam para sempre)

Sete dias
A mordida animal
O Carnaval
As máscaras
O vento nos cabelos
De uma dor sem nome...

Dor-Venezuela
De gritos sem pontes
Dor-Recife
Purulentos mangues
Dor-Haiti
Da primeira abolição
Da vergonha de Napoleão
De escombros em extinção
Apagando a história
Dor-Cuba
De ditadura em ditadura...
E não se consegue respirar

Estou indo, indo
Aqui, aqui, aqui...
Há um peito batendo
Saindo de mim
Um parto sem fim
E seis bilhões de corpos submersos
(inclusive o meu, essa pedra lascada)

O verão passa, uma vida se esvai
Outra vida, mais outra
Entre o fundo e a superfície
Dona Maria Luiza
Vivendo no mundo a ferida
Do seu nome-palavra

Mais uma voz, mais um grito
Mais uma crise de asma
que não passa...


( para quem não conhece a história de dona Maria Luiza: www.pebodycount.com.br/post/postUnico.php?post=1143 )

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Terremoto


Ontem amei um velho
Mastigando ausências

Gengivas desesperadas
Já sem garras

Regurgitava o alimento-sonho
Entranhas transbordando escombros

Como a terra em seu caminho

Os dentes perdidos entre os restos de vida
E os pés descalços em meu ventre
Por uma sombra de esperança

Hoje acordei morta e acesa
Como um grito no escuro