segunda-feira, 23 de maio de 2016

dois funerais de volta à terra

(baseado em fatos reais)

atravessou  a liberdade
na dureza transparente
de uma janela entre coisas naturais

tinha as asas fechadas
e a morte em volta dos olhos
maquiados de sangue e formigas
................................tão abertos!

era um pássaro grande
ontem plantei um
num quintal alheio

como se chama aquele negócio onde
levam os mortos, é andor também?

uma velha telha
resto de um recente teto
um pedaço de pau
para cavar o suficiente
a respiração da terra
todo o meu silêncio

e as mãos violentas
abrindo a cova
a pauladas

era um grito antigo
em estado de semente
a receber uma morte nova
como um aceno alado

era um pássaro grande
ontem plantei um
num quintal alheio

domingo, 8 de maio de 2016

religere

encontrei um anjo debaixo do colchão mais cedo
desde então o dia se lambe
na mais violenta paz
no silêncio das mansidões doídas
o tempo cicatriza seu risco em meu colo
Rezo pelos amores, meus e alheios
Rezo pelas árvores, pela terra, pela água
Rezo pelos que não amo e rezo por mim...
tirando isso
sou um bicho

segunda-feira, 2 de maio de 2016

...

essa sombra leve
atravessando escuros
abrindo em minha pele
poros devassados ao mundo
o odor antigo do suor cicatrizando


foto de Maria Agrelli

domingo, 1 de maio de 2016

aceno ao tempo com olhos de saudade

escolhi a fé no amor para seguir no mundo
já sabia que ia doer desde que cheguei aqui
e quis

hoje não vou falar de abismos
quedas, sombras, nada disso,
hoje quero falar de amor
puro, cru, arranhando
meu corpo por dentro
amor físico

essa eternidade
filha do verbo ir
como as sombras
as quedas
os abismos