quinta-feira, 27 de novembro de 2014

sussurro aos unicórnios


hoje senti cheiro de morte em teus cabelos
aquele perfume íntimo e novo
que sorri nos dias simples

hoje senti o desejo de
deitar sombras no colo
a embalar devaneios

não havia deus, mães, filhos, pais
esposas, maridos, irmãos ou amantes
nenhum nome do amor
------------------pronunciado em vão

era o mundo nu das solidões
dando sentido às ruas
e aos prados em nós

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Recife


é preciso cuidar dessa pedra

sob a cortina de leite na franqueza do sol
sob o sal das águas e a ardência do cão

ainda vivem muitos pássaros...

terça-feira, 2 de setembro de 2014

carta cigana a um andarilho


como o mar chama
e deixa a voz mais divina
que o mundo já pôde tocar
toma, leva as máscaras e as raivas

leve-as despidas ao vento
para um passeio que flana
deixe que falem de dentro
o teu peito aguenta

o nosso peito de rochas esculpidas
em águas aguenta qualquer coisa
até que se morre um dia e pronto, está feito!

por deus, leva as tuas máscaras e as tuas raivas contigo

Andarilho, te falo de homem para homem,
de poeta para poeta...

também careço de paz e de estradas
como a mulher em ti

quando o vento norte do Saara me encontrou
eu também estava só, entre nadas e abismos

vai e deixa as tuas máscaras e as tuas raivas diluídas
na paisagem das ondas de calor que descansam ao sol
mais um tanto de fé e está lá, um oásis

quem sabe num domingo qualquer a gente se encontra por aí
e caminharemos juntos, lado a lado, ausentes das guerras...

por enquanto, é um sussurro
para compartilhar a Paz
há que se ter coragem
muito mais coragem

sábado, 2 de agosto de 2014

quando se morre o corpo inteiro fecha os olhos?


onde apenas nós, os vivos?
onde apenas eles, os mortos?

as unhas e os pelos
são irmãos do tempo?

crescem entre espíritos por luxúria?
quanta terra se enterra
a descobrir silêncios?

corpo,
celebro a vida em teu nome!
e a vida, dança...

os ossos,
sem a querência do fogo
sobram ou ficam?


a memória dos ossos se ajoelha
diante de qualquer fogueira...

morte,
celebro a vida em teu nome!
nua, sou tua!

e a vida, dança...

sábado, 12 de julho de 2014

a deus ou

substantivo feminino


adeus é palavra
que necessita

a boca molhada
para ser bendita

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Sob o signo da Lua


Onde o fogo das estrelas?

À noite o frio rosna
entre as vísceras

O corpo proclama um ciclo novo
sem o meu consentimento

Ossos felinos se contorcem
enjaulados pelo instinto de ir-se...

Delírio?

Se é sangue o que me pedes
assisto a tudo sobre as quatro patas

Com a boca cheia d´água
entrego em paz a agonia à dança

Um sorriso alcança a liberdade
--------------------antes de mim

Hoje o fogo pede descanso
e as estrelas ouvem

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

corredor para uma infância

para minha mãe, que no roseiral, nosso umbigo nas mãos, cavou aquela terra com as próprias unhas...

a casa
o quintal
o cheiro de café

choro sobre a rosa
o cordão umbilical

nas mãos secas
do velho lar
sempre será tempo de flores

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

amor carnal

para Sama

quando olhava os poros dos teus braços

sabia que o tempo
nunca estava em silêncio
----------------- e doía!

como era possível amar tanto
aqueles braços só dele?

era assim esse amor hoje
feito da rotina e crueza
de benquerer esses poros

dói!
às vezes...

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

da série paradoxos existenciais

5:5:5

em sua busca pelo fogo
quanto mais sede no ventre
o frio é
------falta que mata e queima