Ele me olhava como se quisesse me roubar o segredo do umbigo primeiro, o caldo do éter primordial que me deu de presente um rosto e um corpo que se colocam antes de mim no espaço da vida míope das imagens. A imagem, esse general dos nossos tempos de novas ditaduras ocultas - e outras devassadas na cara, carregado de sua própria luz e tão cheio do nada necessário para que apenas com a nossa própria escuridão se consiga olhar... Ele desejava a beleza como algo que se toca, que se pega, que se guarda nas mãos, sem ver que beleza e amor - seja lá o que isso for, estão entrelaçados, emaranhados, nem sequer sobrevivem em duas palavras diferentes, assim como todos os seus contrários. Essa coisa que só se sente, não se vê exatamente, híbrida, intercamuflada, como a gente. E eu, que cato o avesso, me agarro ao invisível e procuro o que não vejo, eu que não sei nada do exato, ia me perdendo do seu desejo.
_ Ravi, há pessoas, seus momentos, seus tormentos, razões ocultas que as fazem esconder sua própria beleza tão profundamente que terminam afeando valiosos reflexos sem perceber. Não procure em mim o que é de você. Quando deixaremos de ser tão idiotas? E aí me incluo porque o que penso nem sempre me guia. O belo? Sempre está em tudo na mesma intensidade com que o desenterramos desse vazio que levamos cheio do nosso dentro. O belo? É. A disposição para cavar é a primeira erupção antes do nascimento das asas. A escolha pelo voo depende individualmente, de cada um, e só pode ser ouvida quando aprendemos a lamber o silêncio com um prazer carnal. Bom, no final, que é também o começo, isso sempre acontece depois de qualquer espécie de orgasmo, às vezes na cara, às vezes na alma. A beleza? Você já se olhou no espelho hoje? Calma, antes de ir, use as unhas para rasgar as entranhas que te cobrem. Liberta os bichos que te comem e morde a vida com os dentes ensanguentados desse monstro mais bonito que todas as flores do mundo. Todas aquelas que chamamos de outras superfícies são reflexos das vertigens, do giro incansável que dançamos em outro tempo, por trás dos nossos pobres olhos. Ah, meu querido Ravi, se você reparar bem enquanto estou rindo, verá que os pedaços de carne e sangue que me sujam a face são o único alimento sincero desse rosto e desse corpo que exalo.
_ Se a beleza dói?
_ Dói tanto quanto a vida. Mas tudo dói, mesmo as alegrias, é que a gente acostumou a pintar a dor de chumbo.
_ Ravi, há pessoas, seus momentos, seus tormentos, razões ocultas que as fazem esconder sua própria beleza tão profundamente que terminam afeando valiosos reflexos sem perceber. Não procure em mim o que é de você. Quando deixaremos de ser tão idiotas? E aí me incluo porque o que penso nem sempre me guia. O belo? Sempre está em tudo na mesma intensidade com que o desenterramos desse vazio que levamos cheio do nosso dentro. O belo? É. A disposição para cavar é a primeira erupção antes do nascimento das asas. A escolha pelo voo depende individualmente, de cada um, e só pode ser ouvida quando aprendemos a lamber o silêncio com um prazer carnal. Bom, no final, que é também o começo, isso sempre acontece depois de qualquer espécie de orgasmo, às vezes na cara, às vezes na alma. A beleza? Você já se olhou no espelho hoje? Calma, antes de ir, use as unhas para rasgar as entranhas que te cobrem. Liberta os bichos que te comem e morde a vida com os dentes ensanguentados desse monstro mais bonito que todas as flores do mundo. Todas aquelas que chamamos de outras superfícies são reflexos das vertigens, do giro incansável que dançamos em outro tempo, por trás dos nossos pobres olhos. Ah, meu querido Ravi, se você reparar bem enquanto estou rindo, verá que os pedaços de carne e sangue que me sujam a face são o único alimento sincero desse rosto e desse corpo que exalo.
_ Se a beleza dói?
_ Dói tanto quanto a vida. Mas tudo dói, mesmo as alegrias, é que a gente acostumou a pintar a dor de chumbo.