sábado, 13 de janeiro de 2018

degeneradamente viva


quando em casa já não se assa o pão
e a vontade de partir não é suficiente
para simplesmente abrir o gás

o forno fechado é um buraco
e esquecer de mim é tão fácil
quanto a fecundação dos vermes

ainda assim, a luta me precede
a beleza entranhada nos ossos
no enjoo, no cheiro da podridão

a violência da voz proclama
a loucura do que pode nascer
dentro de tudo que não se vê

seja eu, outro ou você
apesar da gente, apesar do mundo

a vida pede passagem, ainda
o pão quer o gesto das mãos

amassando o encontro, punhos ativos
e o calor aceso de alguma entrega

seja amor ou grito
escuto e rasgo
como se fosse meu

gostaria de não existir tão crua agora
mas hoje libertei um assombro inato

degenerada como sou
uma igual também
entre os vermes que mato

e a força do que pode nascer
dentro de tudo que não se vê

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