terça-feira, 19 de julho de 2016

Estranhamente crônica

Ando estranhando o mundo.
Estranhando os buracos na calçada,
o lixo jogado nos cantos,
as pessoas dormindo na rua por todos os lados.

A dor espalhada como um sebo pegajoso
entre corpos anestesiados!

Os argumentos políticos e estruturais,
os homens refletindo guerras,
bicho e gente sentindo fome,
nosso Brasil tão florestal, encimentando mais...

Ando estranhando situação e oposição.
Ando estranhando os muros,
as fronteiras que se firmam.

A tristeza das flores,
o desespero do rio,
esse domínio do medo.

As roupas impostas,
as vozes impostas,
as mortes impostas...
Tudo isso que vingou
há tantas encarnações.

Ando estranhando o mundo e percebo
essa estranha que acena
a confiar a estrada
à solidão de amar
sem pedir nada.

A mais estranha de todas as dádivas,
delicadamente dançada
ferozmente dançada
cruamente dançada
em toda encruzilhada.

À terra, ao mar, à natureza em nós
e aos milagres desse estranho mundo.

Um comentário:

Magna Santos disse...

Ai daquele que não estranha, Silvinha. Torna-se um ser de cera, descompassado...um zumbi a perambular com olhos vidrados.